quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Negócios em família Regresso aos Mercados



O extraordinário sucesso - de propaganda - do regresso aos mercados tem como intermediárias quatro instituições financeiras. O Barclays, a Morgan Stanley, o Deutsche Bank e o BES. O Barclays foi um dos bancos intervencionados pelo Governo inglês depois da crise 2008 - tendo beneficiado das ajudas estatais para apresentar lucros logo nesse ano- e nos últimos anos tem andado envolvido em esquemas finaceiros duvidosos por todo o lado. O Morgan Stanley também foi resgatado em 2008 pela Reserva Federal americana, tendo lucrado bastante com a crise das dívidas soberanas na Europa. O Deutsche Bank foi o banco que, indirectamente, provocou o resgate ao sistema bancário irlandês - grande parte da dívida dos bancos irlandeses em 2008 era detida por este banco (operações descritas no livro "Boomerang", de Michael Lewis). Em 2012, foi descoberto que ocultou perdas de 12 000 milhões de dólares para evitar o resgate pelo Governo alemão - os resgates feitos desde 2008 na Alemanha implicaram sempre controlo estatal dos bancos, uma "inconveniência" que não se verifica por cá. Já o BES, conhecido como o banco do PSD, tem sido associado nas últimas semanas a crimes de colarinho branco. Um dos seus dirigentes, José Maria Ricciardi, foi constituído arguido, e o presidente Ricardo Salgado visitou duas vezes o DIAP para prestar declarações em dois processos diferentes.

Ontem corria a notícia de que o Governo espanhol pretendia que gestores indiciados por corrupção ligada ao sistema financeiro pudessem voltar a ocupar cargos em instituições bancárias. Recentemente, foi contratado pela Bolsa um antigo dirigente do BPN que trabalhou de perto com Dias Loureiro e Oliveira e Costa. Um extraordinário sucesso, sem dúvida. E também se fica a compreender por que razão as notícias sobre corrupção no BES têm sido bastante discretas. Sendo o banco um dos parceiros privilegiados do Governo nos seus negócios, não conviria sujar uma imagem que, de resto, é perfeitamente imaculada. Tudo está quando acaba bem. Na Sicília é assim: os negócios são sempre um assunto de família.
por Sérgio Lavos/Arrastão

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