O actual Governo tem um problema com o Estado Social. Curiosamente, o Executivo não mostra problemas com a industria financeira.
Exemplo recente 1: o Governo não hesita em injectar dinheiros públicos em mais um banco, neste caso o Banif. Note-se: trata-se mais uma vez de um banco recheado de figuras políticas nos seus órgãos sociais (do PSD-Madeira, por exemplo) e de outras mais discretas ligadas directamente ao actual executivo (incluindo, segundo foi descoberto, o sócio de um actual governante).
Exemplo recente 2: a tutela não emite palavra quando a CMVM anuncia avançar com uma queixa-crime contra uma associação cívica que se manifestou contra a contratação de um director especialista do Millenium BCP que fundou quase 30% das ‘off-shores' criadas sob a tutela do Jardim Gonçalves, condenado em tribunal por processo lançado pela própria CMVM.
Note-se: este é o mesmo Governo para o qual a "sociedade civil" é um selecto número de personalidades que aceitam o seu convite para discutir a reforma do Estado à porta-fechada.Ora isto, é muito curioso. Porquê?! Porque é claro que se havia sector a portar-se mal antes da actual crise não era o Estado português.
Exemplo recente 1: O sector público era minoritário na dívida total portuguesa em 2007, correspondia a 25,3%. Note-se: com a crise (tendo injectado já 5,6 mil milhões de euros no BCP, BPI, CGD e Banif e outro tanto nos casos BPN e BPP) essa proporção aumentou para cerca de 35%, notavelmente ainda uma componente minoritária do nosso problema com a dívida total.
Exemplo recente 2: as despesas com protecção social sempre estiveram abaixo da média da UE-15. Note-se: os apoios às famílias e aos desempregados têm-se reduzido em plena crise, Portugal tinha em 2012 gastos sociais 3% menores em termos reais que em 2007. No meio de tudo isto qual a prioridade do Governo? Encomendar ao FMI (e agora à OCDE) textos para os quais fornece as opiniões, os dados, e as recomendações de proposta.
É tempo destes governantes esclarecem para quem governam e através de que interpostas organizações querem governar.
Sandro Mendonça, Economista do ISCTE-IUL/Económico
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