Paulo Morais ferrou-lhes o nome a fim de marcar a ignomínia do procedimento. A corrupção só acabará quando eles forem varridos. Tarefa acaso difícil, mas não impossível e ao alcance da nossa cidadania. A urgente necessidade dessa empresa corresponde ao facto de "a nossa democracia estar moribunda". Paulo Morais, professor universitário no Porto, raramente é chamado pelas tv's; no entanto, o que diz, pelas verdades que comporta, atroa os ouvidos.
É mau para a democracia atacar o Parlamento, asseveram cândidas almas. Que fazer, então? Deixar que os vendilhões se assenhoreiem do templo, e dar cobertura à bandalheira indicada pelo prof. Paulo Morais? Aceitar, de ânimo leve, que gente honrada, como outro que se não cala, o prof. Medina Carreira, seja enxovalhada por uma Justiça escabrosa e por jornalistas de baixo jaez e duvidoso estilo? As cumplicidades estabelecidas possuem ramificações tenebrosas. Medina Carreira foi, obviamente, vítima de uma perversidade sórdida, mas não fica imune da infâmia quem, sem curar de saber a veracidade dos factos, tratou de transformar uma insídia numa aparente verdade.
Este jornalismo de faca na liga talvez não prolifere; mas anda por aí, e os seus mosqueteiros (e mosqueteiras) são aplaudidos com desenvolta leviandade. A sociedade portuguesa sofre do mal do tempo, dizem. Contudo, a brutalidade das transformações, por muito aceleradas que sejam, não justificam as cedências e as baixezas a que assistimos. Quando Luís Marques Mendes, em outra barricada, condena Vítor Gaspar, por este nos tratar como "atrasados mentais", essa desordem e essa perturbação têm muito a ver com a consciência do descaso e com a admissão do imoral como norma.
Criticar o Parlamento e os que tripudiam sobre a nobre função de deputado, para sobrepor as suas conveniências aos imperativos sagrados do bem comum, não só amolga a democracia: também vilipendia aqueles que a traem. Andamos excessivamente preocupados com tratar delicadamente os que vão para a Assembleia apenas para tratar da vidinha. É tempo de dizer, com o prof. Paulo Morais, que (entre os demais) os drs. António Vitorino e Paulo Rangel já estiveram juntos, de manhã, no mesmo escritório de advogados, a defender causas e proveitos comuns; e, "separados", à tarde, na Assembleia, a pleitear questões aparentemente opostas. Talvez não haja conflito de interesses, mas o assunto causa engu- lhos, e atiça, certamente, suspeitas de ordem moral. Naquele extremo cume da extrema consciência [Camus] manifesta-se uma razão superior.
Por Baptista Bastos/DN
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