Maçonaria. Os rituais já não basta
Juntam-se em salas fechadas e dedicam-se a cerimónias teatrais entre Irmãos. Mas nem todos se contentam com isso. Pedro Rainho fala-lhe do livro que veio revelar o universo obscuro da maçonaria em Portugal
“A maçonaria está interessada no revigoramento da democracia portuguesa e na instituição definitiva do Estado de direito”, assegurava Adão e Silva, um dos grão-mestres do Grande Oriente do Lusitano (GOL), a mais influente corrente maçónica em Portugal. Mas de imediato se percebe que essa missão, assente em ideais de liberdade, igualdade e progresso social, não inspira toda a Irmandade por igual. A crítica vem de dentro dos próprios templos – que António José Vilela nos convida a visitar, ao mesmo tempo que descreve os rituais de iniciação e as reuniões de Irmãos entre quatro paredes. “Parece que estamos condenados ao jantarismo e a ser agências de emprego, com a remessa de emails pelo respeitável grande secretário às respeitáveis lojas, para empresas de luxo”, denunciava João Santos Fernandes, há dois anos, numa mensagem dirigida ao então grão-mestre da Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal (GLLP/GLRP, resultado de uma cisão no seio do GOL).
O maçon concluía a mensagem com uma crítica ao intuito expansionista da maçonaria, findo o Estado Novo, e à política de novas admissões na organização, ao dizer que “o que nos interessa é gente influente, importante e figuras públicas que nos venham dar empregos”. Acabaria expulso, meses mais tarde, pelo Conselho de Jurisdição da GLLP/GLRP.
António José Vilela antecede o arranque do livro com uma afirmação de princípios: “Há organizações que urge desvendar de forma independente e sem amarras.” Escrito com base em documentos oficiais, e recorrendo aos testemunhos que foi recolhendo de diversos maçons, os dez anos de investigação do jornalista dão lugar a um relato objectivo daquilo que é “o poder oculto da maçonaria”, título do primeiro capítulo do livro.
“Cada uma das oficinas junta simples maçons anónimos e elementos das elites do mundo da política, das universidades, da advocacia e da medicina, das empresas e do sindicalismo, das magistraturas e das polícias”, escreve o jornalista da revista “Sábado” António José Vilela. Um episódio curto (entre muitos) serve para ilustrar a real loja de contactos que é a maçonaria.
No âmbito do Processo Portucale, a Polícia Judiciária intercepta em 2005 uma conversa entre Abel Pinheiro (principal suspeito e responsável pelas finanças do CDS) e José Lamego (PS). José Sócrates tinha acabado de ganhar as primeiras legislativas e Paulo Portas abandonara a presidência do partido na sequência da derrota eleitoral.
Na conversa interceptada, e nas várias que se seguiram, os Irmãos Pinheiro e Lamego formam um triângulo com o líder centrista, para tentar encontrar um “destino digno” para Portas. As expectativas são que o anterior ministro da Defesa rume aos Estados Unidos para uma licença sabática de dois anos, ou para um centro de estudos políticos ou para uma universidade norte-americana.
O jornalista conta outros episódios que ilustram que as redes de contactos e os jogos de favores não se esgotam no meio político. Exemplo disso são os contactos entre Silva Carvalho, ex-agente dos serviços de informação da República, e Nuno Vasconcellos, presidente da administração da Ongoing – um caso que mereceu cobertura nos jornais
Como pano de fundo, António José Vilela deixa a imagem de que, tal como nos partidos políticos, a perspectiva de poder na maçonaria leva a confrontos acesos no interior das dezenas de lojas do GOL e da GLLP/GLRP. Lutas que, não raro, levam ao “abater de colunas” (fim da loja) num lado e ao seu levantamento noutro
Mas fica também a ideia de que os laços que se forjam entre os maçons vão muito além da realidade maçónica. É o próprio autor quem o diz: “É um facto. A influência da maçonaria não transparece apenas nas simbólicas juras mútuas de segredo e de solidariedade ou nos ritos praticados nas lojas.”
E é este o contributo imprescindível de António José Vilela ao reunir dez anos de trabalho de investigação em “Segredos da Maçonaria Portuguesa”. O livro, se não permite entender com absoluta clareza todo o universo secreto maçónico, instala pelo menos a dúvida em quem o lê sobre que meios estão ao dispor de uns e não de outros. Na condução dos destinos de um país, mas também nas portas que a uns privilegiados se abrem e que para o comum dos mortais estarão para sempre cerradas.
Por Pedro Rainho, publicado em 4 Fev 2013 -
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Nos funerais maçónicos, os irmãos dão as mãos em círculo, à frente do seu próprio corpo, formando à volta do corpo do falecido, para assegurar que o irmão serviu a maçonaria e os seus ideais, para libertar o seu espírito de encontro à grande fonte de luz (biblia maçónica, pág. 25) e como símbolo da relação estreita de todos os maçons do mundo. Então é depositado em cima do corpo o avental, símbolo da pureza maçónica, e o ramo de acácia, símbolo da vida eterna. A única garantia de salvação advém do facto de se ter sido fiel e obediente à maçonaria, portanto a salvação depende de si próprio, não da misericórdia divina (enciclopédia maçónica de Coil, pág. 512 e Winsconsin Masonic Handbook, ceremonies X-72). Mas que moral e obediência são essas? Manual de maçonaria, de Edmund Ronayne e Wisconsin multiple letter cipher, 113: “Um Mestre deve conservar os segredos de um Mestre maçon inviolados. Deves esconder todos os crimes de um irmão maçon…se fores arrogado para testemunhar contra um irmão maçon, assegura-te de o protegeres…pode ser perjúrio é certo, mas estarás a cumprir as tuas obrigações.”
A Maçonaria é uma religião de que só acima de mestre se toma conhecimento. A maioria fica-se pelos graus de aprendiz e companheiro...nada sabem. E mesmo depois de mestre têm 33 graus para subir. É uma religião de uma elite, não aberta a todos, um Estado dentro do Estado. E protegem-se segundo o lema "et pluribus unum". Os partidos são irrelevantes, a organização é suprapartidária... Por: WESTWIND
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