Aceleração do ciclo recessivo surpreende economistas e reforça riscos este ano. PIB caiu perto de 7% desde o pico trimestral no final de 2007
A economia portuguesa fechou 2012 a cair pelo oitavo trimestre consecutivo e ao ritmo mais alto desde o início do programa da troika, mostra a estimativa preliminar ontem divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). O impacto da recessão europeia – cuja dimensão foi ontem conhecida e também surpreendeu os economistas pela severidade – está a travar o único motor que funciona em Portugal, as exportações, reforçando o risco de que a contracção este ano seja mais forte que o previsto pelo governo e pela troika.
Os números “não são nada favoráveis”, como admite o economista João César das Neves, professor da Universidade Católica de Lisboa. A economia encolheu 3,8% nos últimos três meses de 2012 face ao mesmo período em 2011 e perdeu 1,8% em comparação com o terceiro trimestre do ano, valores mais graves que o previsto quer pelos economistas quer pelo governo. Globalmente, em 2012 a economia recuou 3,2%, mais duas décimas que a última previsão do governo (e quatro face à primeira).
“O dado mais preocupante é o facto da evolução em cadeia [comparando com o trimestre precedente] ter mostrado um comportamento pior do que nos trimestres anteriores, ou seja, estamos perante uma aceleração do ritmo recessivo”, realça Filipe Garcia, economista da consultora financeira IMF, no Porto. Tirando o primeiro trimestre de 2009 – que marcou o início da recessão na ressaca da crise financeira mundial – o fecho do ano passado registou os níveis trimestrais de contracção mais elevados desde pelo menos 1995, data de início da compilação da série de dados do INE. Ao todo, desde o pico trimestral do PIB no final de 2007, o PIB já encolheu mais de 6,5% desde o ciclo recessivo iniciado em 2009 (apenas interrompido de forma breve em 2010), um valor sem precedentes na democracia portuguesa.
O relatório preliminar do INE não detalha os desempenhos das variáveis que compõem o PIB – procura interna (investimento e consumo) e externa líquida (exportações deduzidas de importações) –, mas adianta uma diminuição significativa do contributo da procura externa líquida. Números publicados esta semana pelo INE já tinham dado conta de uma travagem a fundo do crescimento das exportações, com queda nas vendas para o mercado comunitário, provocada pela contracção económica nos principais destinos europeus de exportação.
Com o consumo interno e o investimento ainda em queda este ano – embora a menor ritmo, acreditam economistas e governo – o efeito da contracção externa está a complicar a situação portuguesa. O Eurostat divulgou ontem um recuo de 0,6% no produto interno bruto dos 17 membros do euro no último trimestre, levando a que 2012 tenha sido o primeiro ano sem qualquer trimestre de crescimento na história do euro. Todas as maiores economias caíram, com a principal, a Alemanha, a mostrar o pior desempenho trimestral (-0,6%) desde o impacto da crise mundial em 2009.
E 2013? Agora os economistas sondados pelo i – Filipe Garcia, João César das Neves e Paula Carvalho (BPI) – preferem esperar por mais dados do início deste ano antes de mudarem as previsões, embora concedam que os riscos de degradação aumentaram. A magnitude da recessão este ano dependerá da profundidade da contracção na zona euro, bem como do agravamento da incerteza interna sobre mais medidas de austeridade (que mina a crucial estabilização das expectativas de empresários e famílias).
“Perante os factos é possível que a troika relaxe os esforços exigidos e melhore as condições do programa”, acrescenta Paula Carvalho, economista do Banco BPI. Filipe Garcia concorda, mas noutro plano: “Não ficaria surpreso com uma evolução positiva ao nível dos meios de financiamento disponíveis”.
A caminho da sétima avaliação regular da troika, marcada para o final deste mês, está já a subir a pressão dos deputados da maioria sobre o governo, para pedir à troika mais financiamento para a economia (ver texto na página 2). Após a avaliação o governo apresentará a revisão em baixa das previsões para 2013, agora fixadas em -1% para o PIB e em 16,4% para o desemprego. A generalidades dos economistas prevê uma contracção acima de 2% e o Banco de Portugal aponta um recuo de 1,8%.
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