terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Correia de Campos Os Panhohas e Cia


Portugal, além de vítima dos panhonhas, está a ser também vítima do fogo amigo
António Correia de Campos, ex-ministro da Saúde de Sócrates, definiu prodigiosamente, na edição de sábado do i, a atitude do governo português perante a troika. Em entrevista à jornalista Rita Tavares, Correia de Campos admite que “a troika precisa de nós”, mas “tem pela frente uns panhonhas que são os nossos actuais governantes, que não são capazes de bater o pé”. É impossível contestar o argumento de que o governo português tem gerido a sua relação com a Europa utilizando – ainda por cima como estratégia mais ou menos publicamente assumida – o método “panhonhas”. O dicionário Houaiss explica os sinónimos de “panhonha” e todos eles abarcam o mood da relação governamental com Bruxelas e Berlim: “pessoa sem ânimo; pessoa apalermada; maria-vai-com-as-outras, pamonha”. Existe ainda a versão de “pamonho”: “Aquele que é pouco inteligente ou desajeitado”.  
A metáfora do “bom aluno”, tão do agrado do PSD desde os tempos do prof. Cavaco em São Bento, tem sido vendida pelo próprio governo pela necessidade de seguir religiosamente uma receita que – nas cabeças alucinadas das tríades que compõem a troika – haveria de trazer a recuperação económica do país a breve curso. O “bom aluno” não contesta o professor, venera-o, bebe-lhe o discurso – mesmo quando é falso e copiado de modelos que já deram provas de falhanço em muitos pontos do globo. Na sexta-feira, pela primeira vez, Pedro Passos Coelho admitiu que, eventualmente, talvez a famosa “espiral recessiva” existisse mesmo, embora se tenha apressado a concluir que ainda não a tinha visto – mesmo depois do desemprego a bater nos 17% e das falências em massa.
Os “panhonhas” estão a destruir um país que estava a conseguir atingir níveis de civilização inimagináveis em 1974. É esse património inteiro que vai para o lixo por intervenção dos panhonhas e da sua companhia irresponsável – a troika, composta pelo FMI, Comissão Europeia e BCE,  que, às terças-feiras, mostram o seu terror com o desemprego e a recessão e às sextas-feiras insistem em obrigar os países a cumprirem as metas económicas que conduzem ao desemprego e à recessão. A ditadura do défice zero, o “custe o que custar”, a redenção moral através do sofrimento – papagueada sempre por quem tem o rabo sentado num orçamento confortável – vai destruir em Portugal 30 anos de recuperação da ditadura e, na Europa, 50 anos de prosperidade económica. O problema não está só nos panhonhas, está nas suas companhias irresponsáveis. O “must” de panhonha europeu será talvez François Hollande, aquele em que os socialistas depositavam bastantes esperanças para poder inverter o domínio dos destruidores de emprego e pessoas. A Europa encarregou-se de se autodestruir e Portugal, além de vítima dos panhonhas, é também vítima do “fogo amigo”.
Por Ana Sá Lopes, publicado em 18 Fev 2013/I 

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