quinta-feira, 16 de maio de 2013

Sócrates e Passos no mesmo avião

                         

O País enfiado no porão

Passos Coelho viaja em económica de Paris até Lisboa. Os dossiês de Estado mal amanhados, periclitantes nos joelhos apertadinhos. A tíbia entalada no banco da frente para dar espaço à papelada. O pé dobrado, as migalhas que rolam pelos gráficos da dívida pública, o iPad que perfura o esófago. E Passos sussurra. Provavelmente, o primeiro-ministro fala baixinho para que ninguém o ouça dizer o que pensa de Paulo Portas e o quanto desmesuradamente confia em Vítor Gaspar. Passos transforma as viagens de avião em plebiscitos ao carácter. Em demonstrações de sacrifício.

Uns lugares mais à frente, no mesmo avião (terça-feira, para ser mais exato), mas em classe executiva, viaja José Sócrates. Pernas esticadas, revista na mão, nenhum vizinho, ninguém para o incomodar, Sócrates pode até dormir - embora haja sempre um sacana que espalha tudo por aí. O dinheiro é dele, faz dele o que bem entender; é um cidadão normal, além de ex-governante, o que até ajuda a justificar alguma pompa - digamos que nisto não está totalmente errado. Paris-Lisboa de avião, para ele, só em executiva; ou talvez esteja apenas a usar o cartão de milhas, não sei, nem quero saber, embora possa achar dinheiro bem ou mal gasto - mais mal do que bem, é verdade. Mas isso é com ele, apesar de que, para tanta gente, é obrigatório exigir-lhe decoro naquilo que não vale um caracol. É só uma desforra, uma ameaça.
É assim. O primeiro-ministro esfrega-se em demagogia, beberica café instantâneo em copo de papel, sacrifica privacidade e concentração - espaço para trabalhar - em busca de um show de modéstia. É bom que se diga: a TAP não cobra um cêntimo aos governantes, só ao gabinete de apoio, além das taxas. Viajar em turística ou em business é igual ao litro do ponto de vista do Estado. Não há custos intermédios, como se diz hoje em dia, embora para a TAP seja pior, porque cede lugares em económica ao primeiro-ministro, lugares que são mais vendáveis do que os da executiva, cada vez mais desertos à medida que a economia afunda.

Há outro ponto. O antigo e o atual primeiros-ministros encontram-se no avião. Têm duas horas de viagem pela frente. Podiam falar. Além dos embates televisivos, será que alguma vez se sentaram sozinhos e trocaram ideias? Não haverá até benefícios mútuos e coletivos? Não há aqui um dever político de relacionamento? Um protocolo que se deve manter até quando tudo arde? Eu diria que sim. Há uma obrigação de convivência institucional que, a acontecer, nos tornaria a todos um pouco mais cooperantes e, por isso, confiantes. Não é hipocrisia, é um dever de salubridade. Num país onde há cada vez menos confiança nos políticos, onde é tudo reduzido a escaramuças partidárias, pobreza e vingança, havia naquele voo de Paris uma oportunidade qualquer de normalidade - já nem digo de grandeza - que não se concretizou. Um à frente, outro atrás; um no presente, o outro no passado; ambos com o futuro incerto, como nós. Nem em business nem em económica, Portugal viaja no porão.  por ANDRÉ MACEDO/DN




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