Sócrates: “Degradação das instituições atingiu o topo da hierarquia”
Presidente da República continua a ser alvo preferencial do antigo primeiro-ministro. Agenda do Conselho de Estado, diz, "não tem nexo".
Cavaco Silva voltou a ser alvo das críticas dominicais de José Sócrates. O antigo primeiro-ministro e actual comentador da RTP considera que o processo de convocação do Conselho de Estado se transformou numa “novela mexicana” e que “não tem nexo” que nesta segunda-feira se vá discutir em Belém o Portugal pós-troika.
José Sócrates entende que os conselheiros de Estado deveriam debater a actual situação do país e não um futuro incerto. Sobretudo porque “este Governo já está a viver tempo emprestado, já está a viver à máquina de respiração assistida. E essa máquina tem um nome: Belém”. Para o antigo líder socialista, é o Presidente quem não deixa cair o Executivo.
Passos Coelho e Paulo Portas já não se entendem, acredita Sócrates. “Temos um Governo que vive um clima de guerra fria no seu interior”, afirmou. “Querem saber quem é que rompe primeiro, porque ninguém quer sofrer as consequências”. O comentador disse mesmo que Portas se tem “comportado como um verdadeiro ilusionista”.
O líder centrista é acusado de querer que os portugueses “olhem para a árvore e não para a floresta”. Isto porque Portas traçou a sua “linha vermelha” na “TSU dos pensionistas”, mas não se manifestou contra uma medida “socialmente mais injusta, com mais consequências para a economia e juridicamente mais arriscada” do que a taxa a aplicar sobre as pensões: “Pela primeira vez, o Governo propõe-se a cortar reformas já atribuídas”.
É por isto que Sócrates entende que a agenda para a reunião desta segunda-feira em Belém “não tem nexo”. “O Conselho de Estado não deve discutir o além”, afirmou. Para José Sócrates, o estado da coligação é o assunto premente e não eventuais cenários.
Sócrates criticou o conteúdo e a forma. O antigo primeiro-ministro considera que o facto de a convocação do órgão consultivo do Presidente da República ser anunciada na televisão por um dos conselheiros (Marques Mendes, na SIC), e não pelo próprio Cavaco, é um sinal de que “a degradação e o espectáculo político da degradação das instituições já atingiram o topo da hierarquia”. "Estou indignado com esta espécie de novela mexicana à volta da convocatória.”
De resto, Sócrates também criticou Cavaco por este ter associado Nossa Senhora de Fátima ao sucesso da sétima avaliação da troika. “Isto é connosco. Não é com ninguém do além”, sublinhou. “Invocar a transcendência não é bonito numa república como a nossa.” Por: HUGO TORRES 19/05/2013/P
Outros relacionados:
" Quinta-feira à noite, na “Quadratura do Círculo”, da SIC Notícias, António Lobo Xavier, homem próximo de Paulo Portas e nomeado pelo governo para elaborar a reforma do IRC, veio dizer que afinal a narrativa de Sócrates sobre o chumbo do PEC IV e o pedido de resgate é verdadeira: “A entrada da troika em Portugal resultou da pressão exercida pelo PSD e pelo CDS-PP.” A chanceler Angela Merkel “não queria uma intervenção concertada, regulada, com um Memorando."
CARLOS CARVALHAS NO ENCONTRO NACIONAL DO PCP
«(...) Em relação à dívida do país em primeiro lugar é preciso recordar que a dívida privada é superior à dívida pública, coisa que esses senhores sempre escondem.
Segundo, é preciso também lembrar que em relação à dívida pública Portugal em 2007, ano em que a crise rebentou tinha uma dívida de 68,4% do PIB, ao nível da zona Euro, inferior à de países como a Itália, Bélgica, praticamente igual à da França e da Alemanha.
O que se passa então para a dívida subir em flecha? Foi porque o Estado passou a gastar muito mais na saúde, no ensino, na investigação? Não! A subida em flecha da dívida pública deu-se devido à quebra de receitas provocadas pela crise, porque no essencial o Estado tomou nas suas mãos o desendividamento e a capitalização da banca.
Os trabalhadores, os pensionistas e os pequenos e médios empresários têm estado a pagar o desendividamento da banca ao serviço dos banqueiros e dos grandes accionistas. Não é só o caso dos milhões e milhões enterrados no BPN, no BCP, no BPP, no Banif, são também os milhões que a banca ganha com o Estado, comprando dívida pública que lhes rende juros de 4,5,6% e que depois os deposita no BCE como colaterais, recebendo iguais montantes a 0,25%, os milhões que recebem em benefícios fiscais, os milhões que têm ganho com as PPP's e até com as rendas excessivas, pois no final são eles que estão por detrás de tais operações e empresas! (...
Cavaco Silva voltou a ser alvo das críticas dominicais de José Sócrates. O antigo primeiro-ministro e actual comentador da RTP considera que o processo de convocação do Conselho de Estado se transformou numa “novela mexicana” e que “não tem nexo” que nesta segunda-feira se vá discutir em Belém o Portugal pós-troika.
José Sócrates entende que os conselheiros de Estado deveriam debater a actual situação do país e não um futuro incerto. Sobretudo porque “este Governo já está a viver tempo emprestado, já está a viver à máquina de respiração assistida. E essa máquina tem um nome: Belém”. Para o antigo líder socialista, é o Presidente quem não deixa cair o Executivo.
Passos Coelho e Paulo Portas já não se entendem, acredita Sócrates. “Temos um Governo que vive um clima de guerra fria no seu interior”, afirmou. “Querem saber quem é que rompe primeiro, porque ninguém quer sofrer as consequências”. O comentador disse mesmo que Portas se tem “comportado como um verdadeiro ilusionista”.
O líder centrista é acusado de querer que os portugueses “olhem para a árvore e não para a floresta”. Isto porque Portas traçou a sua “linha vermelha” na “TSU dos pensionistas”, mas não se manifestou contra uma medida “socialmente mais injusta, com mais consequências para a economia e juridicamente mais arriscada” do que a taxa a aplicar sobre as pensões: “Pela primeira vez, o Governo propõe-se a cortar reformas já atribuídas”.
É por isto que Sócrates entende que a agenda para a reunião desta segunda-feira em Belém “não tem nexo”. “O Conselho de Estado não deve discutir o além”, afirmou. Para José Sócrates, o estado da coligação é o assunto premente e não eventuais cenários.
Sócrates criticou o conteúdo e a forma. O antigo primeiro-ministro considera que o facto de a convocação do órgão consultivo do Presidente da República ser anunciada na televisão por um dos conselheiros (Marques Mendes, na SIC), e não pelo próprio Cavaco, é um sinal de que “a degradação e o espectáculo político da degradação das instituições já atingiram o topo da hierarquia”. "Estou indignado com esta espécie de novela mexicana à volta da convocatória.”
De resto, Sócrates também criticou Cavaco por este ter associado Nossa Senhora de Fátima ao sucesso da sétima avaliação da troika. “Isto é connosco. Não é com ninguém do além”, sublinhou. “Invocar a transcendência não é bonito numa república como a nossa.” Por: HUGO TORRES 19/05/2013/P
Outros relacionados:
" Quinta-feira à noite, na “Quadratura do Círculo”, da SIC Notícias, António Lobo Xavier, homem próximo de Paulo Portas e nomeado pelo governo para elaborar a reforma do IRC, veio dizer que afinal a narrativa de Sócrates sobre o chumbo do PEC IV e o pedido de resgate é verdadeira: “A entrada da troika em Portugal resultou da pressão exercida pelo PSD e pelo CDS-PP.” A chanceler Angela Merkel “não queria uma intervenção concertada, regulada, com um Memorando."
UM RECORD PARA O GUINNESS
Jorge Nascimento Rodrigues, lembra que o Governo de Passos & Portas bateu um record muito velhinho, que subsistia desde o século XIX: a dívida pública atingiu 129% do PIB no final de 2013, valor certificado agora pelo FMI, pela Comissão Europeia e pelo Banco de Portugal.
Jorge Nascimento Rodrigues, lembra que o Governo de Passos & Portas bateu um record muito velhinho, que subsistia desde o século XIX: a dívida pública atingiu 129% do PIB no final de 2013, valor certificado agora pelo FMI, pela Comissão Europeia e pelo Banco de Portugal.
Sabia-se que a queda do record estava iminente. Em 2012, o Governo igualou o rácio da dívida pública face ao PIB atingido em 1892, que se elevou a 124% [cf. Jorge Nascimento Rodrigues, Portugal na Bancarrota - Cinco séculos de História da Dívida Soberana Portuguesa -http://www.centroatl.pt/titulos/desafios/bancarrota/]. Agora, apossou-se deste record que tem barbas. Nem se percebe por que Passou Coelho não aproveitou a subida ao palanque no congresso para comemorar esta proeza única. Verdadeiramente histórica.
«(...) Em relação à dívida do país em primeiro lugar é preciso recordar que a dívida privada é superior à dívida pública, coisa que esses senhores sempre escondem.
Segundo, é preciso também lembrar que em relação à dívida pública Portugal em 2007, ano em que a crise rebentou tinha uma dívida de 68,4% do PIB, ao nível da zona Euro, inferior à de países como a Itália, Bélgica, praticamente igual à da França e da Alemanha.
O que se passa então para a dívida subir em flecha? Foi porque o Estado passou a gastar muito mais na saúde, no ensino, na investigação? Não! A subida em flecha da dívida pública deu-se devido à quebra de receitas provocadas pela crise, porque no essencial o Estado tomou nas suas mãos o desendividamento e a capitalização da banca.
Os trabalhadores, os pensionistas e os pequenos e médios empresários têm estado a pagar o desendividamento da banca ao serviço dos banqueiros e dos grandes accionistas. Não é só o caso dos milhões e milhões enterrados no BPN, no BCP, no BPP, no Banif, são também os milhões que a banca ganha com o Estado, comprando dívida pública que lhes rende juros de 4,5,6% e que depois os deposita no BCE como colaterais, recebendo iguais montantes a 0,25%, os milhões que recebem em benefícios fiscais, os milhões que têm ganho com as PPP's e até com as rendas excessivas, pois no final são eles que estão por detrás de tais operações e empresas! (...
A análise de Sócrates a respeito do momento político atual foi excelente. Mais que um comentador, Sócrates revela-se um grande analista que é um pouco mais.
Sócrates salientou a grande vantagem de o PS estar unido, dizendo mesmo que não é mito habitual a unidade de um partido quando está na oposição. A unidade é mais fácil quando se trata de um partido do governo, mas agora tudo indica que se assiste ao contrário o governo e os seus dois partidos estão desunidos entre si e no seio de cada um dos governos.
O ex Secretário-Geral do PS não acalenta qualquer inimizade com António José Seguro que nem sempre o apoiou, mostrando o seu caráter isento e de pessoa de bem e que continua a ser uma mais valia para o PS, ao contrário do que julgava o Relvas que teve em mente no convite a Sócrates a divisão do partido.
O analista Sócrates foi contundente com Cavaco, mostrando aquilo que sabemos que é um presidente parcial e o único português que apoia e aguenta este governo.
Depois salientou que a política de austeridade é um falhanço a nível europeu e português e recordou o erro do Ministro das Finanças ao dizer que a política de austeridade é indispensável para reduzir o défice quando em 2012 a dívida aumentou em valor nunca igualado na história de democracia portuguesa e que nos primeiros meses deste ano tivemos o maior défice orçamental de sempre.
Sócrates salientou a grande vantagem de o PS estar unido, dizendo mesmo que não é mito habitual a unidade de um partido quando está na oposição. A unidade é mais fácil quando se trata de um partido do governo, mas agora tudo indica que se assiste ao contrário o governo e os seus dois partidos estão desunidos entre si e no seio de cada um dos governos.
O ex Secretário-Geral do PS não acalenta qualquer inimizade com António José Seguro que nem sempre o apoiou, mostrando o seu caráter isento e de pessoa de bem e que continua a ser uma mais valia para o PS, ao contrário do que julgava o Relvas que teve em mente no convite a Sócrates a divisão do partido.
O analista Sócrates foi contundente com Cavaco, mostrando aquilo que sabemos que é um presidente parcial e o único português que apoia e aguenta este governo.
Depois salientou que a política de austeridade é um falhanço a nível europeu e português e recordou o erro do Ministro das Finanças ao dizer que a política de austeridade é indispensável para reduzir o défice quando em 2012 a dívida aumentou em valor nunca igualado na história de democracia portuguesa e que nos primeiros meses deste ano tivemos o maior défice orçamental de sempre.
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