Ferreira do Amaral: Crise política em 2013 é «muito provável»
João Ferreira do Amaral considera que em 2013 a recessão vai ser o triplo da prevista pelo Governo e que uma crise política será «muito provável»
Entrevistado no Tudo é Economia, o espaço semanal da TSF e Dinheiro Vivo, João Ferreira do Amaral fala numa taxa de desemprego de 18% (o Governo prevê 16,4%), numa recessão de 3% (Vítor Gaspar estima 15%) e numa crise política «muito provável» depois de conhecidos os números da execução orçamental do primeiro trimestre.
O economista do Conselho Económico e Social (CES) descreve o convite do Governo ao Partido Socialista (PS) com um adjetivo: «envenenado»
Convite do Governo ao PS é «envenenado»
Com o FMI já no terreno para identificar os cortes permanentes de 4 mil milhões de euros na despesa, o convite do Governo ao PS para ajudar numa reestruturação do Estado é «envenenado». João Ferreira do Amaral considera que o PS, se recusar, terá «100% de razão» porque «em primeiro lugar, não faz sentido porque colaborar nisto significa concordar com a estratégia seguida, que a meu ver é errada». E com os técnicos do Fundo Monetário Internacional já no terreno, «O que é que o PS vai lá fazer?»
Crise política em 2013 é «muito provável»
João Ferreira do Amaral não acredita que o Orçamento do Estado do próximo ano seja executado com sucesso. E isso terá consequências na governação: «Acredito que há uma grande possibilidade de haver uma crise política quando se verificar que os objetivos orçamentais não estão a ser cumpridos, lá para Abril, quando forem conhecidos os números do primeiro trimestre».
Recessão em 2013 será o triplo da prevista pelo Governo
Para 2013 o Governo prevê uma recessão de 1 % e uma taxa de desemprego de 16,4. Mas a dimensão da austeridade que aí vem, com a consequente perda de poder de compra, leva Ferreira do Amaral a fazer estimativas muito mais pessimistas: «a recessão dificilmente será inferior à deste ano [3%]», e por isso «não ficarei espantado se o desemprego for aos 18 %». E se este orçamento for aplicado, os objetivos do acordo com a troika também podem cair por terra: «não acredito nos 4,5% de défice».
Renegociação da dívida é uma questão de tempo
O economista acredita ainda que mais tarde ou mais cedo o país vai ter de renegociar prazos e juros da dívida, mas rejeita um haircut [corte abrupto do valor a pagar aos credores]. Ferreira do Amaral, que foi dos primeiros - e poucos - economistas portugueses a defender um abandono «ordenado» do euro, defende que a saída da moeda única é inevitável; por isso, mas vale o país tentar conduzir esse processo do que ser surpreendido com uma saída apressada que traria consequências muito mais graves do que um abandono controlado.
Declarações de João Ferreira do Amaral no espaço Tudo é economia, uma parceria da TSF e do Dinheiro Vivo para escutar na íntegra este sábado depois das notícias das 13h00.
Perfil
João Ferreira do Amaral conhece bem o FMI. Esteve nas primeiras negociações em 1977 e repetiu esse papel na crise de 1983, quando Portugal foi obrigado a desvalorizar o escudo para sobreviver à recessão.
Foi assessor de Mário Soares na Presidência da República e continuou em Belém com Jorge Sampaio.
Professor catedrático e especialista em questões europeias, é pessimista quanto à continuação de Portugal no euro e acha que o país devia negociar com Bruxelas uma saída organizada da moeda única.
Em 2012 foi ele o relator escolhido pelo Conselho Económico e Social para avaliar a política orçamental deste Governo.
No final, as conclusões foram críticas: há excesso de austeridade nos planos do Governo e falta uma estratégia clara para o crescimento.
Artigo Parcial Fonte: TSF
" O esquema para nos esfolar. E ainda conseguem incutir sentimentos de culpa nos esfolados. - Gastaram além das suas possibilidades. "
Outros com interesse:
Comentário feito há 15 anos ...
Carlos Carvalhas, há 15 anos, disse:
«A moeda única é um projecto ao serviço de um directório de grandes potências e de consolidação do poder das grandes transnacionais, na guerra com as transnacionais e as economias americanas e asiáticas, por uma nova divisão internacional do trabalho e pela partilha dos mercados mundiais. A moeda única é um projecto político que conduzirá a choques e a pressões a favor da construção de uma Europa federal, ao congelamento de salários, à liquidação de direitos, ao desmantelamento da segurança social e à desresponsabilização crescente das funções sociais do Estado.» Carlos Carvalhas, Secretário-geral do PCP — «Interpelação do PCP sobre a Moeda Única», 1997
Parece que afinal o homem é um visionário
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O antigo ministro das Finanças afirmou esta tarde que "não são os eleitores quem escolhe" e que falta "responsabilização" à classe política.
"A gente pensa que são os eleitores que escolhe, mas não são, são grupos de interesses. É assim em toda a parte, e em Portugal mais que noutros países", disse Silva Lopes numa homenagem ao economista João Ferreira de Amaral, perante uma audiência que incluía o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, e o governador do banco de Portugal (BdP), Carlos Costa.
"A nossa organização política não é muito encorajadora", afirmou Silva Lopes, de 80 anos, que já foi também governador do Banco de Portugal. "Há o problema da justiça, dos grupos de interesses. Há um problema de falta de transparência do Estado. De falta de transparência e de responsabilização."
Silva Lopes exemplificou afirmando que "há dias, o Estado deu milhões a câmaras [municipais] que excederam os orçamentos, e não tivemos a lista de câmaras que o fizeram".
O economista escandaliza-se por "alguns presidentes dessas câmaras são agora candidatos de câmaras ao lado!".
Para Silva Lopes, "neste país não há responsabilização de quem não sabe gerir orçamentos".
por Lusa, texto publicado por Sofia Fonseca/DN
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