Renegociar a dívida? Nunca houve outra alternativa...
Algumas boas almas, mesmo do campo do Governo, começam agora a defender a renegociação do memorando da troika, aproveitando - dizem - a autocrítica do FMI sobre a Grécia. Eu não sei se eles leram ou compreenderam o que diz o FMI sobre a Grécia - e que, numa palavra, é que a dívida grega é insustentável. E também não sei onde foram eles buscar a ideia de que agora é que é preciso renegociar. Nunca houve outra maneira de sair disto...
A dívida portuguesa, já aqui o escrevi várias vezes, é também indomável, insustentável, impagável e o que mais lhe queiram chamar. Basta olhar para as simulações. Partindo do seu nível de 2012 (123,6% do PIB), que já está ultrapassado, chegaremos a 2017 na mesma situação - sublinho na mesma situação - caso cresçamos 1% ao ano no PIB e produzamos 2% de saldo primário. Ou seja, se a economia em vez de contrair crescer e se os gastos do Estado (sem contar com os juros) sejam dois por cento inferiores às receitas.
Mas porque não havemos de crescer mais, como dizem os partidos da oposição. Vamos lá pôr três por cento (recordo que a própria Alemanha está com crescimento negativo, mas não custa sonhar). Pois, meus amigos, se crescermos três por cento e não tivermos défice (que é uma coisa tão extraordinária que é preciso recuar a Salazar e a Afonso Costa para nos recordarmos), conseguimos em 2017 passar a dívida pública para 121% do PIB. Querem mais? Descobrimos petróleo, ouro e exportamos 1000 Cristianos Ronaldos; crescemos 6% ao ano (assim tipo China); ao mesmo tempo não gastávamos no Estado nem mais um chavo do que aquele que recebemos, e conseguíamos em 2017 ter a dívida pública a representar 104,7% do PIB. Como veem, isto é simples... Tanto mais que numa visão mais realista - crescimento de 1% (e este é otimista) saldo primário de 1,5% (ou seja o Estado a gastar menos do que arrecada) a nossa dívida continua a subir e, em 2017 estará em 126%. Na verdade, eu não quero deprimir ninguém, mas se não houver crescimento e o Estado continuar a gastar mais do que ganha chegamos aos 150% de dívida num instante. E estes valores, superiores a 130% são considerados insustentáveis e apenas resolúveis pela insolvência. Ao contrário, depois da saída da troika, Portugal tem 20 anos para fazer descer o rácio da dívida a 60% do PIB (metade do que está atualmente).
Podemos, visto isto, dizer que o problema foi dos últimos dois anos - dá sempre jeito esquecer o passado. Ou podemos ser sérios e dizer que os últimos dois anos não ajudaram, mas valores destes, como todos sabem, são construídos com tempo.
Não sairemos daqui com um passe de mágica, como não entramos aqui com um passe de mágica. Foram anos de erros; serão anos de privações.
Podemos, visto isto, dizer que o problema foi dos últimos dois anos - dá sempre jeito esquecer o passado. Ou podemos ser sérios e dizer que os últimos dois anos não ajudaram, mas valores destes, como todos sabem, são construídos com tempo.
Não sairemos daqui com um passe de mágica, como não entramos aqui com um passe de mágica. Foram anos de erros; serão anos de privações.
Por: Henrique Monteiro/Expresso
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