De difícil digestão
Esta não é uma referência à época de festas que agora se encerra. É,
obviamente, uma referência ao discurso de Natal do primeiro-ministro. A novidade foi que se ouviu falar dos desempregados.
E de quem tem sofrido com a crise. Pouco é melhor que nada e antes tarde que nunca, é usual dizer-se, mas ainda assim não se pode deixar de registar que soou a falso: mais uma obrigação do que uma convicção.
A convicção veio depois, já de volta à habitual estrutura de comunicação política do primeiro-ministro: Este foi o ano em que a economia começou a dar volta. As exportações cresceram. Começámos a vergar a divida pública. Houve progresso no défice orçamental. O emprego está a crescer. Vamos reduzir "mais rapidamente" (sic) o desemprego. Para concluir com um "na recuperação do nosso País ninguém pode ficar para trás" claramente destinado a ser inspirador. E até seria se nesse nobre mote militar aqueles que não se podem deixar para trás não fossem os que já estão feridos ou mortos. Um pensamento pouco animador, convenhamos. Aquelas afirmações não passam num ‘fact-checking' básico mas exigente, que a nossa imprensa faz menos do que deve. É pena. Não só aqueles indicadores têm de ser vistos de forma crítica como temos de distinguir claramente o que são valores de evolução ao longo do ano e acumulados no ano. E o ano de 2013 vai fechar pior do que fechou 2012 na generalidade dos indicadores.
Dito isto, importante agora é olhar em frente. E aí há que concordar com o primeiro-ministro: Temos muito para fazer e 2014 é um ano cheio de desafios. O maior dos quais é mudar o que está errado. E o que está errado é muito. Em textos destes, há que optar e ser sintético. Duas ideias de força para 2014:
1)A economia serve as pessoas e não o contrário. Logo, a primeira prioridade deveria ser proteger os tímidos sinais de recuperação económica e parar de sufocar a economia com austeridade. Só o crescimento económico trará menos desemprego, menos pobreza, menos desamparo e menos angústia;
2) As finanças públicas só equilibram se a economia crescer. Políticas que destroem a economia não dão sustentabilidade às finanças públicas. Os mercados sabem bem isto, é por isso que os nossos juros são bem maiores do que os da Irlanda, que soube proteger a economia. E é pela mesma razão que, para perplexidade do Governo, quando o Tribunal Constitucional chumba medidas de austeridade, os juros não sobem. Por:02/01/14| Marco Capitão Ferreira / Económico
Nicolau Santos, 'As certezas incertas de 2014'
[hoje no Expresso/Economia]:
‘O fim do ajustamento é, salvo alguma nova crise política ou algum acontecimento internacional que faça deflagrar as taxas de juro, um dado adquirido. A troika está desejosa de provar ao mundo que a sua receita não resulta apenas em países anglo-saxónicos, como a Irlanda, mas que também obtém resultados em países latinos, tradicionalmente indisciplinados em matéria de finanças públicas. Além de mais, todo o processo de ajustamento foi manchado ou por pressupostos que se revelaram falsos ou incorretos (austeridade expansionista que não funcionou, multiplicadores orçamentais subvalorizados, dívida acima de 90% que reduzia drasticamente o crescimento e não se confirmou), ou por resultados que não eram os previstos (explosão do desemprego, afundamento muito superior da procura interna, recessão mais profunda e mais longa do que o esperado), ou pela demissão do seu maior defensor e garante, o ex-ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que deixou como testamento político uma carta de demissão onde reconhecia que o programa tinha falhado os seus objetivos essenciais (cumprimento das metas para o défice e para a dívida) e existiam efeitos "muito graves" ao nível do desemprego e do desemprego jovem.
A troika quer fazer esquecer todos os erros e portanto tudo fará para que no final de junho de 2014 termine o programa de ajustamento para poder anunciar como uma vitória aquilo que manifestamente se tratou de um processo de experimentalismo económico e social que não correu nada bem.
Contudo, há mais um falhanço inscrito no horizonte. Com efeito, ninguém nos disse que após o programa de ajustamento teríamos de embarcar noutro navio, agora designado programa cautelar, sob risco de não conseguirmos flutuar em matéria de financiamento internacional pelos nossos próprios meios quando nos libertarmos do triunvirato troikista.’
[hoje no Expresso/Economia]:
‘O fim do ajustamento é, salvo alguma nova crise política ou algum acontecimento internacional que faça deflagrar as taxas de juro, um dado adquirido. A troika está desejosa de provar ao mundo que a sua receita não resulta apenas em países anglo-saxónicos, como a Irlanda, mas que também obtém resultados em países latinos, tradicionalmente indisciplinados em matéria de finanças públicas. Além de mais, todo o processo de ajustamento foi manchado ou por pressupostos que se revelaram falsos ou incorretos (austeridade expansionista que não funcionou, multiplicadores orçamentais subvalorizados, dívida acima de 90% que reduzia drasticamente o crescimento e não se confirmou), ou por resultados que não eram os previstos (explosão do desemprego, afundamento muito superior da procura interna, recessão mais profunda e mais longa do que o esperado), ou pela demissão do seu maior defensor e garante, o ex-ministro das Finanças, Vítor Gaspar, que deixou como testamento político uma carta de demissão onde reconhecia que o programa tinha falhado os seus objetivos essenciais (cumprimento das metas para o défice e para a dívida) e existiam efeitos "muito graves" ao nível do desemprego e do desemprego jovem.
A troika quer fazer esquecer todos os erros e portanto tudo fará para que no final de junho de 2014 termine o programa de ajustamento para poder anunciar como uma vitória aquilo que manifestamente se tratou de um processo de experimentalismo económico e social que não correu nada bem.
Contudo, há mais um falhanço inscrito no horizonte. Com efeito, ninguém nos disse que após o programa de ajustamento teríamos de embarcar noutro navio, agora designado programa cautelar, sob risco de não conseguirmos flutuar em matéria de financiamento internacional pelos nossos próprios meios quando nos libertarmos do triunvirato troikista.’
O Mundo inteiro há-de abrir os olhos um dia, se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará da necessidade de ser qualquer coisa de asseado”.
Se há um idiota no poder os que o elegeram estão bem representados
A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.(Mia Couto)
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As premonições de Natália
"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".
"A sua influência (dos retornados) na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder.
Entrevista a João Cravinho
O socialista João Cravinho foi deputado, eurodeputado, ministro da Indústria, ministro do Planeamento e do Equipamento, e administrador do Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento.
João Cravinho considera que Portugal nunca terá um segundo resgate, porque isso significaria assumir o falhanço do primeiro. “Quando esta gente se afadiga se chegamos ao cautelar ou não, eles já sabem que esse problema está resolvido”, argumenta.
Nesta entrevista conduzida pela jornalista Maria Flor Pedroso, João Cravinho afirma que Portugal não terá condições nos próximos dez anos para se livrar da influência alemã.
ttp://www.rtp.pt/antena1/?t=Entrevista-a-Joao-Cravinho.rtp&article=7216&visual=11&tm=16&headline=13
Dívida de países que aplicaram a austeridade foi a que mais cresceu
“Bons alunos” e “maus alunos”, todos os países que seguiram os “diktats” do governo alemão e da troika e aplicaram políticas de austeridade supostamente para reduzir a dívida, obtiveram o resultado oposto: Irlanda, Itália, Espanha, Grécia e Portugal.
http://www.esquerda.net/ artigo/ dívida-de-países-que-aplica ram-austeridade-foi-que-ma is-cresceu/28818
Com o alegado primeiro-ministro não é sequer democrata, social-democrata, liberal ou neo-liberal, suspeito que é uma coisa entre maoísta e fascista. Assim sendo, pode ser perfeitamente norte-coreano...
Maria Magalhães
Já se percebeu que Passos Coelho sabe para onde quer ir e que contando com o apoio de alguma direita europeia usa a chantagem da troika para ignorar todo e qualquer princípio, sejam os princípios constitucionais, sejam morais ou éticos. O mais grave é que os governantes, os deputados e os militantes do PSD parecem zombies, seguem o chefe para onde ele vai. Passos Coelho achou que o problema da economia podia ser tratado como se fosse uma questão de encontrar o calibre adequado para uma arma e depressa todos os governantes desataram a encontrar problemas económicos ou sociais para calibrar. Até há ministros, gente que antes de Passos era muito ciosa da sua dignidade, que procuram novos conceitos desta suposta engenharia pessoana para aplicar aos problemas, agora já há quem em vez de calibragem das medidas tenha adotado a da densidade, parece que em vez de calibrar os critérios do despedimento nesta caso o termo correto é densificar.
Passos Coelho não gosta de nada que cheire a Sócrates, parece que tem um qualquer complexo em relação ao seu antecessor, pelo que tudo o que simbolize a anterior governação é para destruir, só se escapou o Magalhães porque se estava a vender bem e não dependia do governo. Os ministros perceberam o sentimento do primeiro-ministro e desdobraram-se nesta revolução cultural e destruíram tudo o que poderia lembrar Sócrates. Não se escapou nada, a modernização das escolas foi interrompida e agora até faz manchete no jornal (talvez para substituir outros processos que vão sendo arquivados), acabou a formação profissional, as energias renováveis deixaram de ser prioridade, o TGV foi abandonado. Agora, aos poucos, tudo vai sendo retomado, mas com nomes, calibragens e densidades diferentes.
Passos Coelho não gosta do Estado, não se percebe muito bem porquê já que a sua fundamentação ideológica é inconsistente e cobarde, nuns dias diz uma coisa, noutros justifica-se com outra. Mas como as paredes dos edifícios não têm dor as vítimas deste ódio ao Estado são os funcionários públicos, principalmente os quadros, quase todos eles com habilitações académicas mais credíveis do que as de Passos Coelho, para não referir as do Miguel Relvas. Todo o governo se desdobra em ataques a funcionários e pensionistas, cada ministro cria a sua própria sala de tortura e parece que estão competindo para ver qual deles lixa mais os funcionários públicos. Passos Coelho prefere as empresas de mão-de-obra intensiva pelo que os quadros mais qualificados são dispensáveis e o resultado é o que se vê, jovens qualificados a emigrar, investigadores a serem convidados a partir por asfixia financeira, professores desprezados. O país não precisa de boas escolas e muito menos de tantos quadros, que partam pois a Lusófona ou a Lusíada de Passos Coelho produz a mediania intelectual de que o modelo idealizado pelo primeiro-ministro carece. Por:
Maria Magalhães/FacebookPassos Coelho não gosta de nada que cheire a Sócrates, parece que tem um qualquer complexo em relação ao seu antecessor, pelo que tudo o que simbolize a anterior governação é para destruir, só se escapou o Magalhães porque se estava a vender bem e não dependia do governo. Os ministros perceberam o sentimento do primeiro-ministro e desdobraram-se nesta revolução cultural e destruíram tudo o que poderia lembrar Sócrates. Não se escapou nada, a modernização das escolas foi interrompida e agora até faz manchete no jornal (talvez para substituir outros processos que vão sendo arquivados), acabou a formação profissional, as energias renováveis deixaram de ser prioridade, o TGV foi abandonado. Agora, aos poucos, tudo vai sendo retomado, mas com nomes, calibragens e densidades diferentes.
Passos Coelho não gosta do Estado, não se percebe muito bem porquê já que a sua fundamentação ideológica é inconsistente e cobarde, nuns dias diz uma coisa, noutros justifica-se com outra. Mas como as paredes dos edifícios não têm dor as vítimas deste ódio ao Estado são os funcionários públicos, principalmente os quadros, quase todos eles com habilitações académicas mais credíveis do que as de Passos Coelho, para não referir as do Miguel Relvas. Todo o governo se desdobra em ataques a funcionários e pensionistas, cada ministro cria a sua própria sala de tortura e parece que estão competindo para ver qual deles lixa mais os funcionários públicos. Passos Coelho prefere as empresas de mão-de-obra intensiva pelo que os quadros mais qualificados são dispensáveis e o resultado é o que se vê, jovens qualificados a emigrar, investigadores a serem convidados a partir por asfixia financeira, professores desprezados. O país não precisa de boas escolas e muito menos de tantos quadros, que partam pois a Lusófona ou a Lusíada de Passos Coelho produz a mediania intelectual de que o modelo idealizado pelo primeiro-ministro carece. Por:
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