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Estamos a construir um País que não queremos
A discussão em Portugal está dominada pela redução do défice público de 2012 e 2013, pelo pessimismo do Natal.
A discussão em Portugal está dominada pela redução do défice público de 2012 e 2013, pelo pessimismo do Natal, pela necessidade de andar à boleia da Grécia, pela conjuntura. Mas o nosso problema colectivo é bem mais complexo e não está nas primeiras páginas: nascem menos portugueses, estamos a perder os mais qualificados e a aceitar, progressivamente, os menos qualificados. Assim, não temos futuro.
O longo prazo faz-se, claro, da soma de curtos prazos. É, preciso, ainda assim, ter uma visão, dar objectivos e uma perspectiva do que poderá ser o nosso futuro. E é isso que não temos, como se percebe por notícias como as que revelamos nesta edição do Diário Económico (ver página 12). Não é possível atrair quadros qualificados sem economia, mas não é seguramente possível aspirar a ter uma economia com perspectivas de crescimento sem qualificações, internas e externas, leia-se, dos portugueses que estão a fugir do País e dos estrangeiros que já não olham para Portugal como uma oportunidade.
O programa de ajustamento económico é necessário, para corrigir os desequilíbrios, mas não pode ser, ele próprio, o cadafalso da nossa recuperação. Este padrão e este perfil de desenvolvimento, assim, vão condenar-nos a uma pobreza que não será conjuntural, a uma correcção dos desequilíbrios económicos e financeiros que não nos permitirá inverter três variáveis críticas, os nascimentos, a emigração e a imigração, isto é, a demografia.
Já não é a primeira vez que somos um destino de imigração pouco qualificada. Esta imigração, pode dizer-se, é um indicador avançado do que será a evolução económica do País nos anos seguintes. Os portugueses sem emprego são, apesar de tudo, portugueses, têm aqui as suas raízes, familiares e profissionais. Emigram como solução de último recurso e, mesmo os mais qualificados, sabem que nem todas as experiências correm bem, sobram apenas as bem sucedidas, que servem de exemplo.
Nos últimos 20 anos, Portugal foi um País de destino de imigrantes da Europa de Leste, mais qualificados do que os tradicionais brasileiros ou africanos. Foi um movimento migratório que contribuiu para suportar uma economia que, mesmo assim, apresentou um comportamento quase estagnado.
Este perfil migratório acentua ainda mais os nossos desequilíbrios, económico-sociais e financeiros. Teremos uma população activa menos preparada e menos qualificada e menor para fazer face aos encargos com a nossa população crescentemente envelhecida.
A evolução recente dos nascimentos, dos emigrantes - que financiamos durante anos para criarem valor em países terceiros - e dos imigrantes pouco qualificados que não têm espaço nem oportunidades nos seus países de origem revela que estamos a construir um País que não queremos. É aqui, nesta dimensão, que Pedro Passos Coelho está a falhar, porque não se adivinha o que poderá ser o dia seguinte à ‘troika', mesmo com o regresso aos mercados e a independência financeira da nossa economia. Ou melhor, adivinha-se, e por estes movimentos, teme-se o pior. Artigo:António Costa /Económico
O longo prazo faz-se, claro, da soma de curtos prazos. É, preciso, ainda assim, ter uma visão, dar objectivos e uma perspectiva do que poderá ser o nosso futuro. E é isso que não temos, como se percebe por notícias como as que revelamos nesta edição do Diário Económico (ver página 12). Não é possível atrair quadros qualificados sem economia, mas não é seguramente possível aspirar a ter uma economia com perspectivas de crescimento sem qualificações, internas e externas, leia-se, dos portugueses que estão a fugir do País e dos estrangeiros que já não olham para Portugal como uma oportunidade.
O programa de ajustamento económico é necessário, para corrigir os desequilíbrios, mas não pode ser, ele próprio, o cadafalso da nossa recuperação. Este padrão e este perfil de desenvolvimento, assim, vão condenar-nos a uma pobreza que não será conjuntural, a uma correcção dos desequilíbrios económicos e financeiros que não nos permitirá inverter três variáveis críticas, os nascimentos, a emigração e a imigração, isto é, a demografia.
Já não é a primeira vez que somos um destino de imigração pouco qualificada. Esta imigração, pode dizer-se, é um indicador avançado do que será a evolução económica do País nos anos seguintes. Os portugueses sem emprego são, apesar de tudo, portugueses, têm aqui as suas raízes, familiares e profissionais. Emigram como solução de último recurso e, mesmo os mais qualificados, sabem que nem todas as experiências correm bem, sobram apenas as bem sucedidas, que servem de exemplo.
Nos últimos 20 anos, Portugal foi um País de destino de imigrantes da Europa de Leste, mais qualificados do que os tradicionais brasileiros ou africanos. Foi um movimento migratório que contribuiu para suportar uma economia que, mesmo assim, apresentou um comportamento quase estagnado.
Este perfil migratório acentua ainda mais os nossos desequilíbrios, económico-sociais e financeiros. Teremos uma população activa menos preparada e menos qualificada e menor para fazer face aos encargos com a nossa população crescentemente envelhecida.
A evolução recente dos nascimentos, dos emigrantes - que financiamos durante anos para criarem valor em países terceiros - e dos imigrantes pouco qualificados que não têm espaço nem oportunidades nos seus países de origem revela que estamos a construir um País que não queremos. É aqui, nesta dimensão, que Pedro Passos Coelho está a falhar, porque não se adivinha o que poderá ser o dia seguinte à ‘troika', mesmo com o regresso aos mercados e a independência financeira da nossa economia. Ou melhor, adivinha-se, e por estes movimentos, teme-se o pior. Artigo:António Costa /Económico
O governo finalmente apercebeu--se de que muitos portugueses estavam a abandonar o país. Muito a custo, parece ter admitido que isto de muita gente sair é capaz de não ser assim uma coisa tão boa. Que um país perder em três anos 7% da população ativa não será um bom indicador para o futuro da […]
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