Pinto Monteiro desafia os jornalistas com cópias das escutas do "Face Oculta" e "Freeport"
http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2013/11/16/pinto-monteiro-desafia-os-jornalistas-com-copias-das-escutas-do-face-oculta-e-freeportFernando Pinto Monteiro desafia os jornalistas que têm cópias das cassetes das escutas telefónicas dos processos “Face Oculta” e “Freeport” a revelar o conteúdo. O antigo Procurador- Geral da República disse que nada havia de ilícito no que consta nessas gravações. E acha inclusive, hoje, que foi um erro não terem sido tornadas públicas. Numa entrevista ao programa da SIC Notícias "A Propósito", depois de ter estado no lançamento do livro do ex-primeiro-ministro, José Sócrates, disse que não era da sua responsabilidade a decisão de mandar destruir as escrutas... e sobre eventuais polémicas insistiu que não há nada de que se arrependa.
"Raul Cordeiro disse que ouviu as escutas e confirmou que nada têm a ver com o objecto do processo Face Oculta"
vida e obra dos “blogueres «da corda»”
Uma amiga enviou-me esta manhã a entrevista que Fernando Moreira de Sá dá à Visão. Dois outros amigos enviaram-me mensagens a chamar a atenção para a entrevista, embora tivessem acrescentado não terem tido paciência para a ler até ao fim. Acho que a entrevista merece ser lida, até porque, se ele tivesse dois dedos de testa, não a teria dado.
Sá conta-nos o que aconteceu após ter mergulhado de cabeça no projecto para a tomada de poder de Passos Coelho, engrossando a legião de “voluntários” que chapinha(ra)m nas redes sociais.
Que diz ele para ter deixado Pacheco Pereira aos pulinhos logo pela manhã num post escrito a dois tempos (primeiro, realçando as artimanhas da trupe de Passos Coelho e, mais tarde, juntando um período ao post para procurar enfiar o CC no mesmo saco)?
Abdicando de comentar os delírios de Sá, que chega a pôr este escriba a laurear nas expedições oficiais ao estrangeiro, nem perdendo tempo a repudiar a inefável declaração de que os simpatizantes dos vários partidos são todos iguais, fica-se a saber que Passos Coelho, com o apoio do Dr. Relvas, montou uma gigantesca máquina de contra-informação para varrer as redes sociais de lés-a-lés com o intuito único de desqualificar os adversários políticos (Manuela Ferreira Leite, Paulo Rangel e José Sócrates).
Eis Moreira de Sá em discurso directo:
- 1. Quem definiu a estratégia da contra-informação?
“Não posso provar, mas desconfio que o mentor foi Miguel Relvas e tiro-lhe o chapéu. (…)”
2. Em que consistia a contra-informação?
“(…) Havia voluntários a defender as posições do Passos, mas sobretudo a atacar o Governo PS, no Fórum da TSF, na Antena Aberta, da RDP, e nos debates dos canais por cabo. Alargou-se a influência mediática. (…)”
3. Os fóruns da rádio e da televisão eram facilmente manipuláveis?
“Completamente. Se for preciso, provo. (…) Em 2011, o Sócrates foi ao Fórum da TSF.Decidimos entalá-lo e descredibilizar a coisa, exagerando nos elogios. Deu um bruaá enorme. O diretor da TSF teve de explicar-se por causa das críticas dos ouvintes, que consideraram aquilo uma coisa do tipo Deus no céu e Sócrates na terra. Deu-nos um gozo tremendo!”
4. Quem dirigia a central de contra-informação?
“Não vou dizer. (…) por trás disto tinha de estar Miguel Relvas, um visionário quanto à importância das redes sociais para levar o Passos aonde chegou. Não éramos anjinhos. Sabíamos bem ao que íamos.”
5. Como funcionava a central de contra-informação?
“Por exemplo: existia um mail acessível a um grupo fechado, através do qual recebíamos informações, linhas gerais, provenientes de quem estava a preparar o programa do Passos. No início, nem sabíamos quantos éramos. Cada um desenvolvia aquilo, nas redes sociais e na blogosfera, à sua maneira. Utilizávamos isso no Fórum da TSF, no Parlamento Global, da SIC, no Twitter, etc. No último confronto televisivo entre os três candidatos à liderança [Passos, Aguiar Branco e Rangel], condicionámos o debate. Só eu tinha três computadores à minha frente, em casa, além do telemóvel. Antes do debate, já tínhamos tweets preparados para complicar a vida ao Rangel. Nos primeiros minutos, começámos a «tuitar» como se não houvesse amanhã, dizendo que o Rangel estava nervoso e mais fraco do que o esperado. Criou-se um ambiente negativo que se propagou rapidamente. Ao fim de cinco minutos, ríamos até às lágrimas! Até opinion makers repetiam o que dizíamos! E o debate tinha apenas começado...”
6. O mail «fechado» manteve-se nas eleições legislativas?
“Sim. Com mais força e mais filet-mignon informativo.”
7. Como faziam a campanha suja (designadamente do caso Freeport) contra Sócrates?
A contra-informação era a praia do grupo [de Passos Coelho] à volta de Sócrates.Tínhamos nick names para as redes sociais, perfis falsos no Facebook e por aí adiante, mas éramos uns meninos do coro comparados com os tipos dele. Não há virgens nisto: em qualquer campanha eleitoral, existem centenas de perfis falsos, mas perfis com «vida», que incluem fotografias de «família», «clube de futebol», «gostos», etc. O segredo é ir pedindo «amizade» a pessoas da política e alargar os círculos de «amigos». Se deixarmos uma informação sobre o caso Freeport num perfil falso e ele for sendo partilhado, daqui a pouco já estão pessoas reais a fazer daquilo uma coisa do outro mundo.
8. A central de contra-informação passou-se para o Governo após Passos se ter alçado a São Bento?
“Álvaro Santos Pereira, do Desmitos, foi para ministro da Economia; Carlos Sá Carneiro entrou para adjunto do primeiro-ministro; Pedro Correia foi para o gabinete do Relvas; Luís Naves também, mais tarde; João Villalobos para a secretaria de Estado da Cultura; Carlos Abreu Amorim para deputado e vice-presidente do grupo parlamentar; António Figueira, do Cinco Dias, e de esquerda, foi trabalhar com o Relvas; Francisco Almeida Leite para o Instituto Camões; Vasco Campilho foi para algo ligado aos Negócios Estrangeiros; José Aguiar para o AICEP; Pedro Froufe para a comissão de extinção das freguesias; o CDS também recrutou no 31 da Armada. Houve outros. Só em ministros, secretários de Estado e assessores foi uma razia em blogues como o Albergue Espanhol, o 31 da Armada, Delito de Opinião, O Insurgente, o Blasfémias, etc.”
9. O «cérebro» Relvas não tentou atenuar esta deserção de bloggers para o Governo?
“Sim, ainda fui a um encontro de blogueres «da corda», na Presidência do Conselho de Ministros. (…) Mas continuava a haver um grupo disponível, ainda que amputado, para adoçar as medidas más, nas redes sociais e nos blogues, desde que a informação fosse enviada com antecedência. (…)”
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