domingo, 6 de outubro de 2013

Assessor de Passos Omite BPN

                                            
                                              
Assessor de Passos omite no currículo uma década de trabalho no BPN

João Montenegro diz ao PÚBLICO que optou por referir as funções de ex-bancário e não a instituição em causa. Mas é a terceira omissão do género nas notas biográficas oficiais.
É o terceiro caso em que os currículos divulgados pelo Governo de membros do actual Executivo ou dos seus gabinetes omitem as ligações ao BPN/SLN. João Montenegro, assessor do primeiro-ministro, foi requisitado ao BPN — onde trabalhou 12 anos —, mas a passagem pelo grupo então liderado por José Oliveira e Costa, na qualidade administrativo/comercial, não consta da sua nota biográfica oficial.

“Não foi uma questão de omissão, pois a opção foi por colocar as funções que desempenhei na minha vida profissional, como ex-bancário, e não a instituição em causa”, explicou ao PÚBLICO João Montenegro. O assessor de Passos Coelho esclareceu que já este ano deixou, por sua iniciativa, a Parvalorem (o veículo estatal criado pelo governo para receber os activos tóxicos do BPN) e para onde transitou quando o BPN foi vendido ao BIC Portugal.

No Diário da República de 10 de Setembro deste ano, que formaliza a sua promoção de adjunto do primeiro-ministro a assessor, pode ler-se que esteve no sector “bancário como Técnico Administrativo e Gestor de Cliente”, mas não há qualquer referência ao BPN (onde esteve entre 2001 e 2013).

Já a sua curta passagem pelo grupo Amorim, onde trabalhou “entre 1998 e 2001” como “Gestor Comercial” é mencionada. Sobre a decisão de incluir no seu currículo oficial a Accor-Amorim e não o BPN, Montenegro (que não é familiar de Luís Montenegro) explicou: “Como o grupo Amorim tinha uma vertente de produção e de turismo, achei por bem fazer a descrição da Accor-Amorim”.

No Diário da República constam os cargos políticos desempenhados no PSD, onde foi entre 2010 e 2011 assessor do Grupo Parlamentar, “tendo colaborado directamente” com Passos Coelho, com quem foi para São Bento quando este ganhou as eleições em Julho de 2011. A sua  promoção a assessor implicou um aumento da remuneração de 3287 euros para 3653 euros. No mesmo despacho do governo, Montenegro é citado como um “técnico-especialista” no “âmbito das respectivas habilitações e qualificações”, embora com “o estatuto remuneratório” de assessor.

Não é a primeira vez que o Governo “apaga” do currículo dos seus colaboradores as alusões ao BPN/SLN. Os casos mais mediáticos foram os de Franquelim Alves, administrador da SLN em 2009, e que foi ex-secretário de Estado de Economia. Na altura, Franquelim Alves, que deixou o governo na última remodelação, explicou que dos dados que então enviou ao governo constava a sua passagem pela SLN (dona do BPN), “como não podia deixar de o fazer porque era público”. O ex-governante garantiu na altura desconhecer a razão que levou o Governo a apagar do seu currículo enviado à comunicação social a informação.

Já este Verão, quando Rui Machete, ex-presidente do Conselho Superior do BPN e vice-presidente do Conselho Consultivo do BPP, foi nomeado ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, as menções ao BPN e ao BPP desapareceram também da nota oficial. Já a longa lista de cargos desempenhados por Machete em várias instituições constavam do currículo oficial.

Machete justificou a não inclusão da sua colaboração nos órgãos sociais da SLN e do BPP, ambos alvo de burlas que levaram o Estado a injectar fundos públicos nas duas instituições, como tendo resultado de “lapsos”.

Mas ao contrário de Franquelim Alves (este entrou para a SLN já depois de o BPN ter sido nacionalizado e em articulação com as autoridades) e de Machete, João Montenegro nunca ocupou lugares relevantes no BPN, apenas meramente comerciais. Sobre ele, tal como nos outros dois casos, também não há queixas de ilicitudes.

Natural de Cinfães, Viseu, o assessor de Passos Coelho entrou para o BPN em 2001, para trabalhar em balcões na região norte do país. O ex-secretário-geral da JSD manteve-se no grupo bancário após a intervenção do Estado, em Novembro de 2008. Em 2010 João Montenegro apareceu como assessor do grupo parlamentar do PSD, partido já então presidido por Passos Coelho. Quanfo foi eleito primeiro-ministro, voltou a requisitá-lo ao BPN (então sob gestão da CGD) para ser seu adjunto em São Bento.

Entre 1999 e 2008, o BPN foi alvo de uma mega burla perpetuada pela gestão encabeçada por Oliveira e Costa, o principal arguido do caso BPN, que gerou um “rombo” nas contas do Estado de cerca de 5 mil milhões de euros. Em 2012 o BPN foi vendido ao BIC Portugal por 40 milhões de euros (a esta verba somam-se mais 42 milhões arrecadas com a venda do BPN Brasil e do BPN Cabo Verde ao grupo luso-angolano).  Por: CRISTINA FERREIRA 04/10/2013/P






Outros Relacionados:
BPN e a Bancarrota do País                              BPN Duarte Lima
Ali Babá e os 40 Ladrões                                O Clan Duarte Lima e o Polvo Laranja







Sem comentários:

Enviar um comentário