EXPLICANDO um POUCO a “PARTÍCULA de DEUS”
Penso que muitos dos meus leitores lembrarão o célebre Atlas, que era um dos titãs da mitologia grega, e que foi condenado para sempre a sustentar os céus sobre os ombros. Neste contexto, “Atlas” é um dos quatro gigantescos detectores que fazem parte do maior acelerador de partículas do mundo, o LHC, que está em fase adiantada de comprovar algo que admirará a humanidade. A “LHC” é uma sigla para "Large Hadron Collider", ou gigantesco colisor de prótons. Parece difícil exagerar as grandezas desse laboratório que foi construído a cem metros de profundidade, na fronteira entre a França e a Suíça. A estrutura completa tem a forma de um anel, construída ao longo de um túnel com vinte e sete quilómetros de circunferência.
Apesar de já ter publicado aqui um texto sobre o assunto há algum tempo atrás, relembro que as partículas são aceleradas por campos magnéticos ao longo dessa órbita de 27 Km, até atingir altíssimos níveis de energia. Mais especificamente, 7 trilhões de volts. Em quatro pontos do anel, sob temperaturas apenas levemente superiores ao zero absoluto, as partículas chocam-se, produzindo uma chuva de outras partículas, recriando um ambiente muito parecido com as condições existentes instantes depois do “Big Bang”. Nesses quatro pontos estão localizados quatro detectores. O Atlas, assim como o segundo detector, o CMS ("Compact Muon Detector"), é um detector genérico, capaz de detectar qualquer tipo de partícula, inclusive, partículas ainda desconhecidas ou não previstas pela teoria. Já o LHCb e o ALICE são detectores "dedicados", construídos para o estudo de fenómenos físicos específicos.
O que é o “Bóson de Higgs”?
Quando os prótons se chocam no centro dos detectores as partículas geradas espalham-se em todas as direções. Para capturá-las, o Atlas e o CMS possuem inúmeras camadas de sensores superpostas, que deverão verificar as propriedades dessas partículas, e medir as suas energias e ainda descobrir a rota que elas seguem. O maior interesse dos cientistas é descobrir o Bóson de Higgs, a única peça que falta para montar o quebra-cabeças que explicaria a "materialidade" do nosso universo. Por muito tempo, acreditou-se que os átomos fossem a unidade indivisível da matéria. Depois, os cientistas descobriram que o próprio átomo era o resultado da interação de partículas ainda mais fundamentais. E eles foram descobrindo essas partículas uma a uma. Entre quarks e léptons, férmions e bósons, são dezasseis partículas fundamentais: doze partículas de matéria e quatro partículas portadoras de força.
A “Partícula de Deus”
O problema é que, quando consideradas individualmente, nenhuma dessas partículas aparentemente tem massa, ou seja, depois de todos os avanços científicos, ainda não tinha sido possível saber o que dá "materialidade" ao nosso mundo. O Modelo Padrão, a teoria básica da Física que explica a interação de todas as partículas subatómicas, coloca todas a esperança no “Bóson de Higgs”, isto é, a partícula fundamental que explica como a massa expressa-se nesse mar de energias. É por isso, que os cientistas a chamam de "Partícula de Deus".
Fácil de entender, o Modelo Padrão tem um enorme poder explicativo. Toda a nossa ciência e a nossa tecnologia foram criadas a partir dele. Mas, os cientistas sabem das suas deficiências. Essa teoria cobre apenas o que chamamos de "matéria ordinária", essa matéria da qual somos feitos e que pode ser detectada pelos nossos sentidos. Mas, se essa teoria não explica porque temos massa, fica claro que, o Modelo Padrão, consegue dar boas respostas sobre como "a coisa funciona", mas ainda cala-se quando a pergunta é "o que é a coisa". O Modelo Padrão, também, não explica a gravidade. E não pretende dar conta dos restantes 95% do nosso universo, presumivelmente preenchidos por outras duas "coisas" que não sabemos o que são: a energia escura e a matéria escura.
Focando tudo o que foi dito, é por isso que coloca-se tanta fé na “Partícula de Deus”, pois pode explicar a massa de todas as demais partículas. O próprio “Bóson de Higgs” é algo como um campo de energia uniforme. Ao contrário da gravidade, que é mais forte onde há mais massa, esse campo energético de Higgs é constante. Desta forma, ele pode ser a fonte não apenas da massa da matéria ordinária, mas a fonte da própria energia escura.
Em suma, a análise de traços de uma partícula elementar da física descoberta no Grande Colisor de Hádrons (LHC), no segundo semestre do ano passado, "indica fortemente" que é o tão esperado “Bóson de Higgs”, a “Partícula de Deus”, informou na quinta-feira passada o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern, na sigla em francês). Essa partícula ajudará os cientistas a explicar a origem do universo. Assim, deparamo-nos com um mundo todo novo, que exigirá novas teorias, novos equipamentos e novas descobertas; sobretudo, novas formas de pensar e, por conseguinte, de existir como Seres Humanos! Por:Carlos Amaral
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