quarta-feira, 15 de maio de 2013

Conversa de pai reformado para o filho

A todos os pais (e alguns avós) de Portugal 

Meu filho,

Chegaste a casa empolgado da manifestação, vieste com os olhos brilhantes a falar da mudança do sistema e do grande crime que as gerações mais velhascometeram para com os da tua idade.

Vieste a falar do “massacre geracional” e dos benefícios dos reformados que
serão vocês que sustentam.

Disseste até que são explorados hoje e que, quando for a vossa vez, não terão o dinheirinho da reforma à vossa espera.

Pois, filho, deixa que te diga umas coisas para acrescentares à tua reflexão.
Eu e a tua mãe vivemos sempre do que pudemos ganhar com o nosso trabalho.

Eu entrei para o Ministério como auxiliar de contabilidade, depois de tirar o curso à noite, a trabalhar de dia como vendedor, porque o meu pai, pobre agricultor, mal ganhava para o sustento dos meus irmãos mais pequenos.

Nunca gostei de contabilidade, gostava era de vender, mas era uma profissão certa e eu tinha família para sustentar.

A tua mãe ficou em casa, a cuidar de ti e da tua irmã, porque não havia escolas para os pequenitos e as vizinhas já não podiam tomar conta de mais crianças.

Sempre sonhei montar o meu escritório de contabilista mas o que queres?

Como funcionário teria direito à pensão para a qual descontava, a minha família beneficiava da ADSE, para a qual descontei, era a segurança da minha velhice e da tua mãe.

Fiquei, fiquei 42 anos e reformei-me como chefe de repartição, a tua mãe com muito menos porque só descontou 20 anos como auxiliar numa escola.


Com a velhice assegurada, ainda que modestamente, pagámos os teus estudos até tarde, já tinhas mais de 25 anos quando acabaste o curso na Universidade privada porque nunca tiraste média para ir para o ensino público.

Foi com o meu salário que te compramos a mota, depois te demos a carta e o automóvel, foi porque pensámos que não precisaríamos de juntar para a velhice mais do que o que descontávamos que te pagámos os anos de inglês, o karaté, as viagens nas férias com os teus amigos.

Sim filho, deixa que te diga, acusaste-me tantas vezes de ser conformado, de ir para a repartição e ter um salário modesto, querias que arriscasse, abrisse um negócio, como o pai da Elsa, a rapariga de quem estás divorciado, mas se eu deixasse tudo lá se ia a minha pensão e a protecção na saúde, teria que juntar para a minha velhice e da tua mãe e não poderia dar-te e à tua irmã o que tanto gostavam.

Comprámos a casa a crédito porque já não suportavas o bairro modesto, a casa alugada e velha, querias viver bem, a tua irmã dizia que tinha vergonha de levar lá os amigos do colégio, pagámos a casa mesmo a tempo de te ajudar a comprar a tua, quando casaste e o pai da Elsa já estava em sarilhos com os seus negócios.

Ainda te disse para ficarem lá em casa, até endireitarem a vida, a tua irmã já estava a estudar fora, no Algarve, no curso que escolheu, com um esforço acomodávamo-nos todos, mas não quiseste, gritaste que eu era manga-de-alpaca, que nunca teria uma vida capaz, a prova é que nunca saí da repartição, a contar com a reforma e as pantufas.

Pois é, filho, desculpa, pensei que podia gastar contigo e com a tua irmã o que os meus pais não puderam gastar comigo.

Pensei que tinha uma reforma e por isso não precisava de proteger mais os
meus anos de velho.

O que eu não sabia era que te estava a explorar.


Agora gritas que me sustentas, e à minha reforma e eu não sei porquê mas talvez tenhas razão, eu devia ter sido mais prudente e guardar para mim e para a tua mãe o que te dei com tanto amor.

A contar que não te seria pesado, que não terias que me sustentar como eu fiz com os meus pais e a tua mãe com os dela, lembras-te? Vieram viver cá para casa, admiraram-se com a nossa casa tão grande, com o nosso nível de vida, e dividimos com eles o que havia.

Ainda bem que terei uma reforma, pensei tantas vezes, posso gastar com eles o que ganho, e com os meus filhos, talvez com os meus netos se precisarem.

Nunca levei a tua mãe ao México, ou ao Brasil, nem sequer a Paris, gasta com os garotos, dizia ela, eles têm que viver o tempo deles, a gente não precisa.

Tu foste, foste a tantos lados, ficavas 6 meses e mais, dizias que era dos estudos, depois voltavas cheio de ideias para comprar um computador novo, um plasma, uns sofás novos, pai, dizias, os tempos são outros, se tens dinheiro compra, para que te agarras ao dinheiro se vais ter uma reforma?


Desculpa, filho, acho que te estou a massacrar, e à tua geração mas deixa que te diga que me preocupa muito a tua mãe, quando eu morrer ela só vai ficar com metade do que eu recebo, se ainda a deixarem receber isso, e não chega, não chega para te ajudar a pagar as pensões de alimentos aos meus netos, não chega, filho, não chega.

Deixa que te diga que te dei tudo o que tinha, com orgulho e com amor.

Hoje, filho, quando te ouço, penso quem me dera ter poupado para a minha velhice e da tua mãe, em vez de te ser tão pesado agora, com a minha pensão.
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