terça-feira, 12 de março de 2013

Constança O Povo É Quem Mais Ordena.

                                       

                        

Por Constança Cunha e Sá
http://www.ionline.pt/

Na ausência de qualquer política contra o desemprego, o primeiro-ministro decidiu informar o país de que afinal tinha uma solução na manga: nada mais nada menos do que baixar o ordenado mínimo para que as portas das empresas se abrissem, por milagre, aos milhares de desempregados que por aí deambulam, entupindo as ruas com manifestações e poluindo a paisagem que nos rodeia. Obviamente, e tendo em conta a miséria em causa, Pedro Passos Coelho achou por bem deixar esta sua “sensata” proposta para melhores dias. Confirma-se assim o vazio em que o governo se encontra nesta como noutras matérias. De acordo com os últimos sinais emitidos pelo primeiro-ministro, o desemprego vai continuar a subir, engrossando estatísticas e batendo recordes, até que um dia o crescimento económico nos caia em cima por obra e graça do Espírito Santo.

Até lá, o sempre prestimoso João Salgueiro encontrou uma forma brilhante de remover os ditos desempregados de cena: pô-los a trabalhar na mata para se manterem ocupados. A malandragem, supõe-se, não pode andar por aí à solta, de mãos a abanar e sem que ninguém a controle. Ao menos que vão limpar as matas, já que não sobreviveram à “selecção natural”, de que fala Passos Coelho, que apura as empresas fortes e destrói as que, segundo este darwinismo de pacotilha, não têm condições para existir. A selecção, no entanto, ainda deve estar longe de concluída, já que Miguel Relvas considera que andam por aí, sentadinhos no seu emprego, uma data de “instalados” que naturalmente necessitam de ir para a rua de forma a poderem ocupar o seu tempo nas matas de que fala João Salgueiro.

Deve ser por estas e por outras que o país está no rumo certo, como proclama orgulhosamente o primeiro- -ministro: está tudo a correr “em linha” com as previsões de um governo que, qual “engenheiro de almas”, pretende criar uma sociedade nova recheada de jovens empreendedores que vingaram nas juventudes partidárias e cresceram nas redes clientelares dos partidos. O país, em vez de se queixar e de choramingar, nas ruas ao som da “Grândola Vila Morena”, devia sim pôr os olhos em Miguel Relvas, um homem bem-sucedido que soube singrar na vida e nos negócios.

Em vez disso, os portugueses, dando razão a um dito qualquer romano, teimam em não se deixar reformar. São “piegas”, como o primeiro--ministro já explicou, que teimam em não abandonar “a zona de conforto” (o desemprego, claro) partindo ordeiramente para a sopa dos pobres de outros países europeus e, para cúmulo, não morrem, acumulando reformas de luxo, que aparentemente lhes caíram do céu sem que tivessem feito nada por isso. Por junto, um povo que se habituou a “viver acima das suas possibilidades” tem que amargar e arrepiar caminho sob pena de não estar à altura da utopia revolucionária que o primeiro-ministro generosamente lhe oferece. E, não, isto não é uma falha de comunicação do governo. É uma linguagem rudimentar, em que sobressai a ignorância e a prepotência que serve de suporte a um imenso vazio político. Um sinal dos tempos.
Por Constança Cunha e Sá
http://www.ionline.pt/

Na ausência de qualquer política contra o desemprego, o primeiro-ministro decidiu informar o país de que afinal tinha uma solução na manga: nada mais nada menos do que baixar o ordenado mínimo para que as portas das empresas se abrissem, por milagre, aos milhares de desempregados que por aí deambulam, entupindo as ruas com manifestações e poluindo a paisagem que nos rodeia. Obviamente, e tendo em conta a miséria em causa, Pedro Passos Coelho achou por bem deixar esta sua “sensata” proposta para melhores dias. Confirma-se assim o vazio em que o governo se encontra nesta como noutras matérias. De acordo com os últimos sinais emitidos pelo primeiro-ministro, o desemprego vai continuar a subir, engrossando estatísticas e batendo recordes, até que um dia o crescimento económico nos caia em cima por obra e graça do Espírito Santo.

Até lá, o sempre prestimoso João Salgueiro encontrou uma forma brilhante de remover os ditos desempregados de cena: pô-los a trabalhar na mata para se manterem ocupados. A malandragem, supõe-se, não pode andar por aí à solta, de mãos a abanar e sem que ninguém a controle. Ao menos que vão limpar as matas, já que não sobreviveram à “selecção natural”, de que fala Passos Coelho, que apura as empresas fortes e destrói as que, segundo este darwinismo de pacotilha, não têm condições para existir. A selecção, no entanto, ainda deve estar longe de concluída, já que Miguel Relvas considera que andam por aí, sentadinhos no seu emprego, uma data de “instalados” que naturalmente necessitam de ir para a rua de forma a poderem ocupar o seu tempo nas matas de que fala João Salgueiro.

Deve ser por estas e por outras que o país está no rumo certo, como proclama orgulhosamente o primeiro- -ministro: está tudo a correr “em linha” com as previsões de um governo que, qual “engenheiro de almas”, pretende criar uma sociedade nova recheada de jovens empreendedores que vingaram nas juventudes partidárias e cresceram nas redes clientelares dos partidos. O país, em vez de se queixar e de choramingar, nas ruas ao som da “Grândola Vila Morena”, devia sim pôr os olhos em Miguel Relvas, um homem bem-sucedido que soube singrar na vida e nos negócios.

Em vez disso, os portugueses, dando razão a um dito qualquer romano, teimam em não se deixar reformar. São “piegas”, como o primeiro--ministro já explicou, que teimam em não abandonar “a zona de conforto” (o desemprego, claro) partindo ordeiramente para a sopa dos pobres de outros países europeus e, para cúmulo, não morrem, acumulando reformas de luxo, que aparentemente lhes caíram do céu sem que tivessem feito nada por isso. Por junto, um povo que se habituou a “viver acima das suas possibilidades” tem que amargar e arrepiar caminho sob pena de não estar à altura da utopia revolucionária que o primeiro-ministro generosamente lhe oferece. E, não, isto não é uma falha de comunicação do governo. É uma linguagem rudimentar, em que sobressai a ignorância e a prepotência que serve de suporte a um imenso vazio político. Um sinal dos tempos.
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