terça-feira, 10 de setembro de 2013
Sócrates em risco na RTP
POLÍTICA: não estará poiares maduro a querer calar Sócrates na RTP?
Oxalá esteja equivocado e o que aqui escrevo constitua um enorme disparate, mas a RTP parece estar a preparar-se para acabar com o espaço dominical de opinião de José Sócrates, o que exigirá de quem aprecia ouvi-lo uma contestação muito audível junto do poder político, a que a Direção de Informação está subordinada.
Voltemos atrás: quando este espaço foi anunciado ainda era o tempo em que miguel relvas tutelava a televisão pública. Como bom julgador por si julga o iluminado licenciado da Lusófona congeminara um plano, que só podia ser visto como brilhante na sua mente tortuosa: numa altura em que o (des)governo estava em grandes dificuldades junto da opinião pública e cada manifestação organizada pelo movimento «Que se Lixe a Troika» parecia o dobre de finados pela equipa liderada por passos coelho, António José Seguro via aproximar-se o momento de ser chamado às funções de primeiro-ministro.
Pensou o relvas: que tal chamar o anterior primeiro-ministro, ciente de que não morreria de amores pelo seu sucessor e lhe trataria de fazer semanalmente a folha nos seus comentários semanais?
Bem avisou Jorge Coelho que, quem imaginasse Sócrates por essa bitola, estaria bem enganado: a sua ética iria, pelo contrário, significar uma espinha atravessada na garganta de quem dele traçara perfil tão em desconformidade com a realidade.
Desde então José Sócrates tem confirmado o que já sabiam os seus muitos admiradores: possui um carácter determinado; uma Visão para o futuro completamente desconhecida de quem, lamentavelmente, lhe sucedeu; um comportamento republicano irrepreensível no que isso significa de respeito pelas instituições consagradas na Constituição; uma inegável solidariedade com os dirigentes e os militantes do seu partido … e uma esmerada educação, que só pode exasperar a gente mal educada, que tem no pasquim matinal do grupo Cofina ou no obscuro semanário do inefável arquiteto a sua tradução deformada da realidade.
O medíocre relvas passou à História sem glória, nem eficiência nos seus jogos intriguistas. A estratégia revelara-se um flop colossal.
Mas poiares maduro, que agora sopra instruções à RTP e se tem revelado tão falho de escrúpulos quanto o seu antecessor, não estará confortável com as críticas incisivas emitidas por aquilo que deseja transformar em mais um completamente domesticado altifalante do (des)governo.
O primeiro sinal da tentativa de erradicar Sócrates dos ecrãs foi a forma como o cenário mudou depois da pausa de agosto: em vez de uma apresentação autónoma do telejornal com um espaço distinto do da comum apresentação das notícias, ele passou a integrar-se na lógica do desfilar das notícias do dia, perdendo-se o estatuto diferenciado inerente à sua rubrica.
O segundo sinal foi a contratação da horrível boca guedes para um programa de entretenimento, como salto intermédio para a colocar à frente do telejornal. Imaginar-se-ia possível ter tão tenebrosa criatura a poder vir a substituir a atual apresentadora como entrevistadora do anterior primeiro-ministro? Ser associado a “colega” de trabalho de tal caricatura na mesma estação televisiva já causaria relutância a muito boa gente!
O terceiro sinal esteve com a pergunta com que se concluiu hoje a rubrica e em que Sócrates foi instado a comentar a posição da Comissão Nacional de Eleições a respeito do frete, que a RTP se aprestava a fazer a passos coelho numa despudorada ação de propaganda a dias das autárquicas.
Embora não enjeitando a pergunta o comentador colocou-se na posição de vir a ser sumariamente despedido por falta de solidariedade com o patrão, que se viu desfeiteado por um órgão regulador a quem deve obediência.
Prudente, José Sócrates não foi tão rebarbativo quanto o caso exigiria, e talvez tenha escapado à intenção, que deverá ir na cabeça de poiares maduro. Mas ficou demonstrada a possibilidade de, nas próximas semanas, se sucederem novas armadilhas, que levem a RTP a alegar bons motivos para procurar silenciar José Sócrates.
Fonte: Blog Ventos Semeados
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